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Jejum Intermitente: O Que Diz a Ciência Sobre Essa Tendência?
O que é o jejum intermitente?
O jejum intermitente tem ganhado popularidade como uma prática alimentar que promete diversos benefícios: emagrecimento, saúde cerebral, longevidade e até prevenção de doenças. A ideia é simples: comer em uma janela específica de horas e jejuar no restante do dia.
Por exemplo, no protocolo 16:8, a pessoa jejua por 16 horas e come durante 8 horas. Outra forma comum é o jejum em dias alternados, como jejuar às terças e sextas e comer normalmente nos demais dias. Mas será que essa prática é realmente eficaz para a saúde?
Jejum intermitente é saudável? A ciência responde
Embora o jejum intermitente esteja na moda, popularidade não significa eficácia. A pergunta mais importante é: o que a ciência realmente comprova sobre essa prática? Para responder, é preciso analisar os estudos feitos até hoje, começando pelos animais de laboratório.
O primeiro estudo sério sobre jejum intermitente foi publicado em 1945 por pesquisadores da Universidade de Chicago. Eles observaram que ratos em jejum alternado viviam mais. Contudo, os próprios autores alertaram que os ratos mais saudáveis viveram mais independentemente do jejum.
A maioria dos estudos foi feita em animais
Desde então, muitos estudos sobre jejum intermitente foram realizados, principalmente com ratos e camundongos. Isso ocorre porque é muito mais fácil controlar variáveis em animais do que em humanos. Os resultados sugerem benefícios contra obesidade, hipertensão, diabetes e até Alzheimer.
No entanto, é importante destacar que esses resultados positivos foram observados em ambientes altamente controlados. Ainda não há comprovação científica sólida de que os mesmos efeitos ocorram em humanos nas condições normais do dia a dia.
Quais são os possíveis mecanismos do jejum intermitente?
Redução do estresse oxidativo
Uma das hipóteses é que o jejum reduz o estresse oxidativo, que ocorre quando há excesso de radicais livres no corpo. Essas moléculas instáveis podem danificar proteínas, lipídios e até o DNA, contribuindo para o envelhecimento e doenças como o câncer.
O jejum pode ajudar ao reduzir a produção de energia pela mitocôndria, o que diminui a formação de radicais livres. Em estudos com animais, o jejum mostrou diminuir o estresse oxidativo em diversos órgãos, sugerindo um efeito protetor.
Regulação dos ritmos circadianos
Outra hipótese envolve os ritmos circadianos, que são os ciclos de 24 horas do corpo influenciados pela luz e escuridão. Eles regulam funções como sono, apetite e metabolismo. Comer fora dos horários biológicos pode desregular esses ritmos.
Foi observado que jejuar à noite e comer mais cedo pode ser benéfico, já que o metabolismo lida melhor com a glicose durante o dia. Isso pode ajudar a prevenir doenças como diabetes tipo 2. A autofagia — o “sistema de limpeza” das células — também pode ser estimulada nesse processo.
Indução da cetose
Por fim, a hipótese mais aceita hoje é a de que o jejum intermitente promove cetose. Quando o corpo fica sem glicose por tempo suficiente, ele começa a utilizar a gordura como fonte de energia, produzindo corpos cetônicos que alimentam órgãos como o cérebro.
Esse processo é semelhante ao que ocorre na dieta cetogênica. Além de ajudar a queimar gordura, os corpos cetônicos podem reduzir o apetite. No entanto, a cetose pode causar efeitos colaterais como dor de cabeça, tontura e náusea, principalmente no início.
Evidências em humanos ainda são limitadas
Nos estudos com humanos, a realidade é mais complexa. As pessoas são diferentes entre si: idade, sexo, histórico de saúde e estilo de vida variam muito. Por isso, os estudos precisam selecionar perfis muito específicos, como homens com hipertensão ou mulheres pós-menopausa.
Isso limita a possibilidade de aplicar os resultados ao público em geral. Além disso, não há consenso nem mesmo sobre a definição de jejum intermitente. Enquanto alguns estudos testam jejuns de 12 horas, outros avaliam períodos de 20 horas, ou jejuns em dias alternados.
O que sabemos até agora?
A conclusão é clara: ainda não há evidência científica suficiente de que o jejum intermitente traga benefícios para pessoas saudáveis. A maioria dos estudos positivos foi feita em animais, e os testes com humanos são pontuais e focados em condições específicas.
Além disso, manter o jejum pode ser difícil. Muitas pessoas sentem fraqueza, irritação, dor de cabeça e até impacto no convívio social. Há também o risco de que o jejum estrito leve ao desenvolvimento de transtornos alimentares em alguns casos.
Considerações finais
Se no futuro os estudos comprovarem que o jejum intermitente é benéfico para toda a população, será ótimo. Mas até lá, é importante tratar com cautela todas as promessas de marketing e livros que vendem o jejum como solução milagrosa.
A ciência exige evidências sólidas — e até o momento, elas ainda são insuficientes para recomendar o jejum intermitente como prática universal de saúde.
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